O uso do videogame como ferramenta pedagógica pode se transformar em um grande aliado do educador para motivar, entreter, trabalhar conteúdos específicos e outros aspectos fundamentais para o aprendizado do aluno
Por Juliana Lambert
Aquela história de que videogame não combina com educação é puro preconceito. O uso de games como ferramenta pedagógica pode tornar a aula mais dinâmica e facilitar a aprendizagem. "Com o videogame é possível trabalhar conteúdos específicos de determinadas disciplinas, elevar a autoestima do aluno, reforçar a importância do trabalho em equipe, estimular a criatividade e dar asas à imaginação", comenta o educador físico Archimedes Moura Junior, que já utiliza games na escola e compartilha as suas experiências com o Guia Prático para Professores de Ensino Fundamental.
Há quem associe videogame com violência ou somente com diversão. De que forma o educador pode utilizá-lo como ferramenta pedagógica?
Embora a associação com violência seja comum, não há nenhum fundamento, pois não é uma relação de causa e efeito. Jogo videogame desde os 5 anos e nunca fui mais ou menos violento por causa disso. Como ferramenta pedagógica, podemos usar jogos RPG nas disciplinas História e Geografia, como o Age of Empires (jogo de estratégia). Na Escola Projeto Vida (localizada na capital paulista), vamos implementar o jogo Tríade (desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia) para trabalhar História, Educação Física e Artes. O Tríade é um jogo educacional que aborda a Revolução Francesa. Na Escola Estadual Ary Barroso, em São Paulo (SP), realizamos um trabalho com o jogo Quadribol, do Harry Potter e, a partir dele, disputamos partidas na quadra e trabalhamos a leitura e a escrita com os alunos.
"Para muitos, o videogame é o vilão da história, mas cabe a nós, educadores, mudar esse pensamento."
Quais aspectos e conteúdos o professor pode trabalhar com os games?
É possível trabalhar conteúdos específicos, reforçar o trabalho em equipe e estimular a criatividade, entre outros aspectos. É importante lembrar que as crianças de hoje são nativas digitais e as suas habilidades e competências estão mais voltadas para a tecnologia. É claro que isso não significa que temos que abolir os livros ou a lousa, mas é preciso trazer essa tecnologia para a sala de aula. Só para ilustrar, podemos pensar em como as crianças conhecem todos os "pokemons" e suas variações, mas apresentam dificuldades para aprender regras simples de ortografia ou a tabuada.
Quais os benefícios do videogame para o aprendizado?
Como usuário de videogame, posso atestar que ampliei o meu vocabulário da língua inglesa. Mas os benefícios são inúmeros, porque o jogo desperta o interesse do aluno em aprender e o transforma em protagonista do conhecimento. E tudo isso é feito com uma ferramenta que lhe é familiar. O professor também encontra diversas possibilidades para trabalhar games como ferramenta pedagógica, além de mais interatividade com a turma.
O educador pode introduzir o videogame nos primeiros anos do Ensino Fundamental I?
Imagino que sim, já que o trabalho com o Quadribol foi realizado com crianças do 4º ano em escolas públicas e particulares. É fundamental escolher o jogo mais adequado para cada faixa etária, por isso é importante que o professor conheça e também jogue. Se o educador não tiver afinidade com games, uma boa opção é buscar informações com os alunos.
Jogos educacionais são boas opções?
Sempre escuto dos alunos que os jogos educacionais são chatos, repetitivos e muito fáceis. Por isso, optei trabalhar com jogos comerciais que, a priori, não foram criados para o uso escolar. Os desafios são maiores, a dificuldade é variada e é mais atrativo. Mas existem jogos educacionais muito semelhantes aos comerciais, como o Tríade.
É importante delimitar o tempo dedicado aos jogos para evitar a dependência?
Eu não conheço nenhum dependente de videogames, e acredito que existam casos bem específicos. Assim como a prática excessiva de esporte causa lesões, o uso de videogame também deve ser dosado. O papel dos pais é muito importante e a participação da escola também. Se o assunto for discutido dentro de casa e na escola, será mais fácil regular as horas de jogo e outras atividades.
Quais são as dicas para o professor que pretende utilizar o videogame como ferramenta pedagógica?
Estudar, pesquisar e não ter receio do desconhecido. O educador precisa acreditar na ideia e conversar com os alunos. A turma saberá como levar para a prática os conceitos apresentados pelos professores.
Em que situações o videogame pode deixar de ser um aliado da educação?
Quando é tratado com preconceito e "pré-conceitos". Exemplo? Achar que usuários de jogos violentos ficam violentos. Outro problema é levar o videogame para a sala de aula sem ter muito claros os propósitos e a função. Enfim, para muitos, o videogame é o vilão da história, mas cabe a nós, educadores, mudar esse pensamento.
fonte:
* Archimedes de Moura Junior é educador físico com especialização em Educação Física Escolar. Desde 2005, utiliza jogos eletrônicos comerciais para trabalhar conteúdos em suas aulas em escolas públicas e particulares.
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